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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Da queixa ao sintoma analítico: condição para o inicio de uma análise.


DA QUEIXA AO SINTOMA ANALÍTICO: 
CONDIÇÃO PARA O INICIO DE UMA ANÁLISE. 

Por Flavia Bonfim 

Quando se começa uma análise?  
Encontrar um analista a quem possa endereçar suas questões é um passo ou melhor um grande passo; as vezes, extremamente dificil para algumas pessoas. Por outro lado, não é o encontro com um psicanalista que garante que uma análise possa se dar. É preciso algo a mais. Esse algo a mais é encontrado do lado do paciente. Do lado do paciente encontramos a queixa, a demanda e a construção do sintoma analítico. 
Falemos um pouco mais sobre isso que na prática psicanálitica se encontra do lado do paciente:
Miller (1987), em seu texto “A psicanálise e a psiquiatria”, afirma que a demanda feita ao psicanalista deve partir de uma iniciativa própria do paciente (com exceção da análise de crianças, que são levados pelos pais). Este avalia seu sofrimento, interpretando “para si mesmo seu próprio sintoma a partir do que sabe e também não sabe, a partir do desconforto de tipo especial que lhe causa seu sintoma.” (MILLER, 1987, p. 113).
Ainda de acordo com Miller (1987) , na clínica psicanalítica, o sintoma, por sua vez, só existe na medida em que o paciente fala dele. Nela, não é o analista quem observa o sintoma, descreve e o classifica, dando-lhe um nome, mas é somente o próprio sujeito que o nomeia. É o próprio sujeito que pode dizer de sua questão, de seu sofrimento. Isto implica em uma clínica fundamentalmente feita pelos pacientes. Esse é um traço marcante da psicanálise, constituída desde seus primórdios com o discurso de seus pacientes. Nesse sentido, a psicanálise não se constrói como um campo de saber exterior à prática, mas se fundamente a partir dela.
A demanda de análise, todavia, não deve ser aceita em seu estado bruto, mas deve ser questionada pelo psicanalista. O sintoma deverá ser interrogado afim de saber a que ele está respondendo, que gozo vem delimitar. Nesse sentido, a psicanálise procura abordar a verdade do sujeito que se manifesta através de seu sintoma. O sujeito pode procurar um analista para se queixar de seu sintoma e até dizer que deles quer se livrar, mas isso não basta. Quinet (2000), em seu livro As 4+1 condições de análise, afirma que “É preciso que a queixa se transforme numa demanda endereçada àquele analista e que o sintoma passe do estatuto de resposta ao estatuto de questão para o sujeito, para que este seja instigado a decifrá-lo” (p. 16) Assim, cabe ao analista direcionar o sintoma para que ele se transforme em questão para o sujeito: “che vuoi?”, que queres?, introduzindo o desejo na dimensão sintomal.
O sintoma do qual o paciente se queixa deve, portanto, ser transformado em sintoma analítico, em enigma. Quando o sintoma é transformado em enigma, identificamos neste momento a “histerização do sujeito”, já que o sintoma passa a representar a divisão do sujeito. A histerização implica que o sujeito se dirija ao psicanalista com uma pergunta a respeito de seu sintoma: “O que isso quer dizer?” 
Dizendo de outro modo, é somente quando se opera uma passagem da queixa à produção de um sintoma analítico, da queixa a um enigma a ser decifrado por parte do paciente, que o inicio de uma análise pode realmente começar a se colocar. Posto isto, já não se trata mais de um pedido de cura, de solução para as dificuldades da vida. Algo se subverte no próprio sujeito e este passa a se interrogar: Por que repito essas mesmas situações? Por que me sinto tão desvalorizado e qual a função disto? Por que não consigo alcançar o que julgo querer?... Perguntas como estas que se orientam por um desejo de saber - passo inicial que permitirá ao paciente durante o processo de análise construir soluções singulares para lidar com seu mal estar de modo que ao seu final um saber-fazer com o seu sinthoma terá se produzido. 



REFERÊNCIAS:


MILLER, Jacques-Alain. A psicanálise e a psiquiatria. In: Falo – Revista Brasileira do Campo Freudiano, n° 1, Rio de Janeiro: Editora Fator, 1987. 113-124 p.

QUINET, Antônio. As 4 + 1 condições da análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.






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