Psicóloga / Psicanalista Flavia Bonfim - Atendimento - Cursos - Eventos - Textos
Contatos: (21) 98212-6662 / 2613-3947 (Secretária eletrônica)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

“EDUARDO E MÔNICA” - PROCURANDO AO INFINITO SOLUÇÕES PARA O IMPOSSÍVEL DO LAÇO AMOROSO...


Por Flavia Bonfim

Sucesso do momento, tornou-se “Eduardo e Mônica” – O filme. A primeira impressão que temos dele é  sua vertente encantadora de colocar em cenas uma música tão conhecida da Legião Urbana, de autoria de Renato Russo, com a característica peculiar de unir melodia e narrativa sob o pano de fundo de uma estória amorosa. Posso dizer que o clip nos CONECTA. Não é a toa que sua realização esteja ligada à operadora de telefonia Vivo, que explorou tão bem em suas imagens o uso da tecnologia a serviço da conexão entre as pessoas, servindo-se da temática do amor num mês bastante propício, no qual se comemora o dia dos namorados.  
Ah.... o amor! Tema melhor não poderia existir para cativar os consumidores – tendo mais eficácia quando se recorre a uma data em que os amantes parecem preferir esquecer o desencontro marcado por toda relação sexual e apostam com mais convicção na idéia do amor enquanto podendo fazer UM.
Por outro lado, penso que Renato Russo, apesar de falar do amor, tenha dado certo lugar em sua letra (pequeno ou não) ao furo e desencontro na relação amorosa. O primeiro de todos e mais evidente é que Eduardo e Mônica são nitidamente diferentes um do outro, seja em idade, estilo de vida, gosto, interesses, enfim....
“Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão”

                Não há reciprocidade, correspondência, proporcionalidade entre os dois, sendo por isso que Renato Russo continua...


E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz

Eles comemoram, festejam, mas também brigam. É interessante notar que  o autor não afirma que um completa o outro. Quem diz é “todo mundo”, uma fala sem dono. Diz, entretanto,  que completa  tal como “feijão com arroz”. Feijão e arroz é um boa combinação na cultura brasileira, mas não podemos negar que um prato só com eles não é completo. Falta um bife, uma batata-frita,....
Sustentar completude onde não há, é gerar mal-estar. Quantas brigas acontecem porque se espera que o parceiro ou a parceira pense da mesma forma, goste das mesmas coisas, tenham os mesmos interesses e os mesmos pensamentos? Quando se namora, se casa,.. enfim, se relaciona amorosamente as duas pessoas não passam a fazer uma só – como muitos gostariam ou pensam – mas continuam a ser dois sujeitos com desejos diferentes. Não há completude, nem simetria ou possibilidade que um supra tudo do outro.
O amor visa fazer “Um” e sofre-se justamente porque isso é impossível, porque a relação sexual nunca é aquilo que se deveria ser. Eis o tão conhecido aforismo lacaniano que sintetiza radicalmente o que acabo de dizer: “Não há relação sexual”. É justamente essa ilusão que é um grande gerador de conflitos, desentendimentos, sofrimentos e decepções. Isso, contudo, (falo aos os apaixonados e ansiosos pela chegada de 12 de junho) não quer dizer que os parceiros não possam sustentar um laço amoroso, mas somente ao passo que procurem ao infinito soluções para o impossível da relação sexual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário