POR FLAVIA BONFIM
Os videos apresentados fazem uma crítica ao movimento contemporâneo da clínica psiquiatrica de "etiquetar", colocar rótulos sobre o sujeito. O primeiro, de modo especial,
A psiquiatria atual está fundada na incompreensão do sujeito a respeito de seu sintoma, não havendo lugar para nenhuma espécie de subjetivação sobre o que o acomete. Não sendo mais tratado pela palavra, a via medicamentosa tornou-se a única opção de tratamento. Os diagnósticos inventados são os mais variados, muitos feitos a partir de recortes clínicos em decorrência da respostas aos experimentos com medicamentos.
Um bom exemplo disso é o "Transtorno de pânico"*. Este não é um sintoma inédito para a psicanálise, muito pelo contrário, ele já havia sido descrito por Freud desde 1895, porém com uma outra nomenclatura, a saber, Neurose de Angústia. A invenção desse novo diagnóstico psiquiátrico se deu em função de um observação clínico experimental, que tomou como referência os trabalhos realizados pelo psiquiatra americano Donald Kein. Este realizou uma pesquisa com o medicamento imipramina, utilizando-o em pacientes com ansiedade crônica e aguda, que constituiam dois grupos, respectivamente. Nesse experimento, ele observou que a imipramina era eficaz no tratamento de pacientes acometidos com crises de angústia agudas, repentinas e inexplicáveis, não obtendo o mesmo resultado com o outro grupo. Por outro lado, com tranqüilizantes habituais, a resposta não era positiva nos grupos com crises agudas. Assim, a “dissociação farmacológica” possibilitou a criação de uma entidade nosológica que corresponderia a esses novos dados empríricos, que demostra a tendência da psiquiatria a fazer recortes clínicos. Ou seja, de uma dissociação farmacológica no tratamento da angústia, cria-se, então, duas entidades nosológicas: o Transtorno de pânico e o Transtorno de Ansiedade generalizada. O que a psiquiatria fez com o fenômeno de angústia é um bom paradigma para evidenciar as bases de seu trabalho.
* Considerações extraídas do texto de Carlos Augusto Nicéas, intitulado "Pânico e Angústia" In: Latusa 4/5 - Revista da EBP.
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