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sábado, 13 de novembro de 2010

"Os excessos na busca pela beleza"

A beleza deixou de ser apenas um adjetivo e tornou-se um imperativo social. Ou seja, todos devem ser belos e isso implica em seguir certos padrões estabelecidos pela sociedade. Os meios de comunicação de massa (TV, revista, outdoor) divulgam os novos padrões de beleza e a sociedade exerce pressão para que se chegue à perfeição desses modelos esteticamente padronizados. Não há lugar para as particularidades de cada um.

Ser bonito é ter um corpo escultural, livre de imperfeições, celulite, estrias, rugas, gordura localizada, sempre jovem, além de vestir-se e parecer com os artistas. É bom esclarecer que muitos dos belos corpos expostos na mídia não existem na medida em que são retocados e alterados pelos milagrosos softwares de edição de imagens. Isto que dizer que as pessoas acabam se identificando e idealizando algo inexistente e ilusório.

O padrão de beleza é, sobretudo, o de um corpo jovem, que não aponta para as marcas do tempo. Busca-se esconder que envelhecemos. Ignoramos a realidade humana da passagem do tempo e preferimos acreditar na fábula da fonte da juventude que a ciência pode nos proporcionar.


Beleza: um novo objeto de consumo.
Como é repetido aos quatros ventos, vivemos em uma sociedade de consumo. Somos influenciados a acreditar que podemos obter prazer absoluto através do que se pode comprar. Porém, nunca alcançamos esse prazer, pois sempre aparece um novo produto melhor e mais eficiente que o antigo. Isso mantém as pessoas permanentemente insatisfeitas e abertas às novidades do mercado. A ordem é: “Consuma!”. É neste contexto que surge o “consumismo”, como uma forma de obtenção de prazer e ocultação do mal estar, da falta, da idéia de que não podemos ter tudo, nem podemos ser perfeitos.

Quem nunca ouviu a frase: “Ninguém é perfeito.”? Mas a sociedade moderna nos faz acreditar que podemos alcançar a perfeição por meio de um belo corpo. Assim, a beleza passa a ser também um produto de consumo. Consome-se cosméticos, cirurgias plásticas, serviços de estética, produtos para emagrecimento e para auxiliar a obtenção de massa muscular. Tudo isso para chegar a um modelo de beleza único, fazendo-nos crer que o “corpo perfeito” é a garantia da felicidade amorosa, profissional e social.
Por outro lado, tendo a beleza se tornado um produto de consumo tal como carro, ela se tornou também mais um meio de exclusão social na medida em que a maioria dos recursos disponíveis para o aprimoramento e manutenção da beleza não são baratos. Sendo assim, a sociedade impõe o padrão da beleza e ao mesmo tempo exclui a maior parte da população de ter acesso a ela.

Devo esclarecer que isto não é uma crítica aos cuidados com o corpo, ao uso de cosméticos, à cirurgia plástica, enfim, aos meios nos quais buscamos para melhorar a aparência. O problema é quando se estabelece um modelo único e este passa a ser perseguido incessantemente, como se tudo aquilo que não se encaixa neste padrão de beleza fosse necessariamente feio.

A busca excessiva pelo corpo perfeito pode extrapolar os limites e tornar-se uma obsessão, um vício. Há os viciados em álcool, em jogos, em drogas, mas há também os que só pensam em sua imagem física, que fazem qualquer coisa para atingir o “corpo perfeito”, mesmo com prejuízos para saúde. Como por exemplo: excesso de exercícios físicos, falta de alimentação, ingestão de drogas (anabolizantes), várias cirurgias plásticas. É preciso estarmos atentos à linha tênue que separa o cuidado saudável com o corpo de uma busca compulsiva pela beleza. Lembremos que a perfeição é inatingível e que ser belo não é a mesma coisa que ser feliz.


Autora: Flavia Bonfim. Publicado no Jornal Lig.

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